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Paula Oliveira

Garranos


Cresci com cavalos. Eram sobretudo garranos. Mas havia também o Gringo e o Celta. Os cavalos sempre foram o meu animal preferido. Depois o cão.


Até aos meus 37 anos nunca me tinha ocorrido que teria cavalos. Eu amava-os, mas não precisava de os ter. Nem tão pouco os desejava ter.


Aconteceu que, com o projeto Cabril Eco Rural, começou a fazer sentido ter cavalos. Ou eu assim quis que fizesse. Olhando agora para trás, percebo que Cabril Eco Rural poderia ter começado sem cavalos.


Quando comentei em casa, com a minha mãe e o meu filho, que ia comprar cavalos, não recebi nenhum calor da parte deles. O Afonsinho até desdenhou, como se eu estivesse a delirar. A minha mãe nem comentou. Não dei relevância e continuei o meu trabalho - planificar e estruturar é uma trabalheira.


Ao idealizar o projeto, coloquei duas éguas garranas - raça autóctone que valorizaria o projeto que iniciaria nas antigas cavalariças da Trote-Gerês. Um lugar ao qual chamei de Abrigo da garrana - mesmo quando ainda não estavam os garranos lá. Consegui justificar muito bem (a mim própria) o investimento que teria de fazer. Anotei todos os materiais que necessitaria para eles com a mentoria do meu querido e saudoso amigo José Ginja.


Estabelecidos os orçamentos, iniciei, sempre com a ajuda do Ginja, a procura de garranos para comprar. Duas fêmeas, era o ideal para mim, segundo o meu amigo. Assim seria.


Eu e o Ginja fomos visitar um criador de garranos para nos ajudar. Visitámos a exploração, lá estavam algumas éguas e entre elas um macho castrado, juvenil. Lindo. Entre as éguas, que era o que interessava, havia uma mais velha, muito mansa, a Tamara, e uma poldra de uma ano, a Jupita, que seria muito bom para começar. Mas aquele cavalo… os meus olhos não o largaram mais. Agarrei-me ao cavalo naquele instante. Já vi situações mais drásticas em relação a isto.


Claro que trouxe a Tamara e a Jupita. E claro que o Damasco não ficou para trás. Meigo, indiferente, elegante, inteligente, altivo e com um compasso admirável, o Damasco é o meu bibelot mais dispendioso.


No dia que os três chegaram ao Abrigo da Garrana foi especial. Eu e o Afonso estávamos excitados, ansiosos. Não sabíamos como ia correr, se gostariam do lugar, se não fugiam... Montámos uma tenda junto ao picadeiro. Dormimos toda a noite lá. Por vezes acordava para tentar ouvir os cavalos lá fora. E voltava a adormecer.


Ao despertar, o Afonso abriu a tenda e lá estavam eles. Tamara, Damasco e Jupita.


Esta lembrança surgiu ao ver uma foto tirada naquela altura, 9 de abril de 2015.


A Tamara já não está connosco, o Damasco continua lindo e mimado, a Jupita já é mãe de um belo rapaz de 2 anos, o Pales - irreverente, astuto, polido.


De resto, não há grandes mudanças. Talvez o fato de agora os garranos estarem na Quinta da AlbaLeda, onde vive a cadela Pastora e outros animais, como ovelhas, vacas, cabra, galinhas, burros. Uma gata e uns tantos outros selvagens que vão por ali aparecendo para comer.


Eu continuei e continuarei a planificar, estruturar e implementar novas ideias e sabe-se lá onde isto irá parar? Pôr em prática a planificação é uma canseira doida. Está tudo bem...não sofro de nenhum transtorno, apenas decidi ter uma quinta o mais sustentável possível, rodeada de natureza, saúde e bem-estar.





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